Parte 2 - Novo Dia

A casca vibrou sob sua mão, e o chão pareceu respirar.
O tronco se ergueu lentamente, estalando como ossos antigos.
Raízes se desprenderam do solo, e galhos se esticaram como braços em direção à luz.
O ar tremeu.

A árvore o observava. Suas folhas tremiam em um ritmo compassado, e, quando a voz veio, soou como o vento atravessando rocha:

– Vejo que Jizu ainda cria filhos curiosos.

O Astronauta ficou imóvel.
– Você fala nossa língua?
– Agora falo. Minha espécie é capaz de espelhar outras formas biológicas e interagir com elas.

A criatura recolheu os galhos, e o tronco começou a mudar de forma.
Cascas se dividiram em segmentos, as fibras se moldaram até formar uma silhueta humanoide.

– Minha espécie viveu sob o primeiro sol — antes do cosmos sonhar com vocês. Fomos apagados pela própria ganância; o próprio medo. Mas Jizu... Jizu nos guardou.

O Astronauta respirou fundo.
– Guardou?
– Trouxe-me para este mundo, para preservar o DNA da espécie. Ele fez isso com tudo que está aqui. Estamos em seu santuário — sua reserva particular de espécimes de todo o multiverso.

Will registrava em silêncio, os sensores tremendo como se sentissem algo além de dados.

O ser-árvore inclinou a cabeça e, com um dos galhos que lembravam braços, revelou um pequeno artefato embutido em seu tronco.  Era mais um Livro de Jizu, coberto por um fino musgo dourado que cintilava como poeira estelar.

– Este pertence à sua espécie.
– A Terra?
– Sim.

O Astronauta o recebeu com reverência. O material era quente e parecia pulsar, como se respirasse.
– Por que me entrega?
– Porque o que carrega o nome do seu mundo não serve a quem já foi salvo.

A criatura ergueu os braços, e as folhas se abriram ao redor dela como asas verdes.
– Leve-o. E lembre-se: a floresta também é um reflexo do criador.

O som do vento cessou.
A clareira ficou em silêncio. O livro ainda brilhava.

Will quebrou o silêncio:
– Senhor... devo registrar como milagre, metáfora ou fato?
– Registre como tudo isso. Jizu parece gostar das entrelinhas.

E ali mesmo, sob a luz filtrada pelas copas, abriram o novo exemplar.