Deserto

Até onde se podia enxergar, tudo era areia. Caminharam o Astronauta e Will, por quase uma hora no solo fofo e nem sinal de nenhum horizonte diferente, senão o de minúsculos cristais que formavam dunas e mais dunas adiante.
– Vamos morrer aqui se não acharmos uma sombra... – observou o Astronauta.
– Confesso que meus circuitos também estão superaquecidos, senhor...
– Ao menos você não precisa de água. Eu preciso, e a minha não vai durar muito tempo nesse calor infernal...
– Na verdade, você está equivocado. Eu preciso, sim de água. Conforme meus protocolos de manuten...
O robô não pôde terminar a frase.
– Sentiu isso? – perguntou o Astronauta.
– Parece uma leve anomalia sísmica, senhor...
– Sim, o chão está tremendo. E que barulho horrível é esse?
A atmosfera é tomada por um ensurdecedor tiquetaquear, como milhares de relógios funcionassem juntos, no mesmo lugar.
– Parece o pesadelo de um relojoeiro, senhor...
Não era um sonho ruim! De fato, peixes mecânicos, muito ágeis, passaram a saltar da areia, como se nadasse em água; um gigantesco cardume de píscios feitos de aço, repletos de engrenagens e fios.
– Sardinhas de metal que nadam no deserto, este planeta é realmente surpreendente! – diz o Astronauta.
– Elas parecem assustadas, senhor. O padrão sugere que estão fugindo de algo... maior.
ESTAVAM! Tampouco passou a enxurrada de pequenos pisciformes, viram ebulir da terra, como a erupção de um vulcão, a Serpente Gigante, também toda feita de metal. Não tiveram tempo para reação antes que a bocarra, maior que uma casa, os abraçasse, engolindo-os...