Big Techs, tempo e subjetividade: um diálogo entre Ferrari, Bernardo e a era da inteligência artificial
- Eduardo Kaze
- 27 de ago.
- 11 min de leitura

As maiores empresas de tecnologia do planeta nunca foram tão poderosas. Em 2024, Apple, Microsoft, Nvidia, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla — o grupo apelidado de Magnificent Seven — somaram US$ 17,6 trilhões em valor de mercado. Para comparação: é mais que o PIB conjunto da América Latina.
Mas o que explica esse domínio quase absoluto das Big Techs? E o que significa para o nosso trabalho, nosso lazer e até para o tempo que acreditamos ser “livre”? Dois pensadores ajudam a decifrar esse enigma: Terezinha Ferrari e João Bernardo. Embora tenham escrito antes da explosão da inteligência artificial generativa e da concentração global das plataformas digitais, suas reflexões soam como diagnósticos do presente.
O trabalho sequestrado pelas máquinas
Em 2014, Ferrari advertia que as chamadas “tecnologias inteligentes” não emancipam o trabalhador. Ao contrário, o transformam em intermediário.
“A máquina é ela mesma a virtuose, é ela que possui habilidade e força em lugar do operário”, escreve, ecoando Marx.
Segundo a autora, a informatização reduziu a atividade humana a uma abstração: o trabalhador apenas executa comandos, enquanto o verdadeiro conhecimento permanece fora de seu alcance.
“O trabalho e o conhecimento são separados, não estão mais juntos; e então, o trabalho se tornou uma mera ação mecânica e a ciência se colocou fora da subjetividade de quem trabalha; foi pensada em outro local e, no processo de trabalho, encontra-se não em quem trabalha, mas dentro de uma coisa — a máquina.”
Quando olhamos para a atual explosão da IA generativa — sistemas capazes de produzir textos, imagens e códigos em segundos — a leitura de Ferrari parece antecipar a condição do trabalhador contemporâneo, treinando algoritmos que aprenderam com milhões de dados, mas sem nunca se apropriar do “saber” que produzem.
“Quanto mais pleno de inteligência o trabalho, tanto mais o trabalhador diminui em inteligência”, alertava Ferrari, citando Marx.
O tempo, substância do capital
Já João Bernardo, em palestra de 2005, insistia em outro ponto: não é apenas o trabalho que está em jogo, mas o próprio tempo.
“O tempo, não os objetos, é a substância do capitalismo”, afirmou.
Para ele, a exploração capitalista se realiza, sobretudo, como controle temporal. E esse controle não se restringe ao local de trabalho. O lazer também é capturado.
“Em vez de constituírem uma fuga à exploração, os lazeres tornaram-se uma parte indispensável dos mecanismos da mais-valia”, disse.
Bernardo identificava, já então, como computadores e entretenimento digital serviam simultaneamente ao trabalho e ao adestramento cognitivo.
“Todas as formas eletrônicas de lazer constituem, por si sós, uma forma de adestramento da força de trabalho, o que significa que as pessoas passam alegremente a maior parte dos seus ócios adquirindo habilitações que as tornam mais produtivas.”
Hoje, em tempos de TikTok, Instagram e Netflix, sua leitura soa quase profética: nosso lazer não é apenas vigiado, mas convertido em dado — e, portanto, em lucro.
As Big Techs como novos gestores globais
Ferrari via no “controle permanente da atividade intelectual dos trabalhadores” a alma do capitalismo. Bernardo, por sua vez, falava da emergência de uma nova classe exploradora: os gestores, que não precisam ser donos dos meios de produção, mas controlam os fluxos de trabalho e tempo.
Nada descreve melhor o papel das Big Techs.
Controle da subjetividade: algoritmos que ditam o que vemos, lemos e escutamos.
Controle do tempo: notificações, vídeos curtos e feeds infinitos que colonizam cada minuto disponível.
Controle do trabalho: plataformas que modulam produtividade, desempenho e até a linguagem usada pelos trabalhadores.
Como resume Ferrari:
“Mesmo que facilite o trabalho, como capital fixo, a máquina não livra o trabalhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo.”
E Bernardo complementa:
“Para que a disciplina de empresa continue a pautar os comportamentos fora da empresa é necessário que o ócio dos trabalhadores não seja tempo livre, mas tempo controlado.”
Inteligência artificial
Em 2022, a chegada do ChatGPT popularizou a IA generativa. No ano seguinte, a Microsoft investiu US$ 10 bilhões na OpenAI. Em 2024, Apple, Amazon, Microsoft e Meta destinaram juntas US$ 750 bilhões à infraestrutura de IA.
Mas, diante dessa avalanche de capital e inovação, a questão permanece: estamos diante de uma tecnologia que ampliará nossa liberdade, ou de mais uma engrenagem de controle?
A resposta de Ferrari parece inequívoca:
“Ao trabalhador é sonegada a apropriação por ele próprio de seu saber-fazer.”
Enquanto Bernardo lembraria que nem mesmo o lazer escapa:
“Entre o mais intenso dos gestos de trabalho e o mais espreguiçado dos gestos de repouso existe um continuum preenchido pela vigilância eletrônica.”
Fichamentos:
Trabalho e subjetividade no capitalismo contemporâneo - Terezinha Ferrari, Porto de Ideias, 2014
O fundamento da desigualdade do sistema se efetiva em duas condições complementares, de um lado, a constante renovação produtiva dos setores mais avançados intensifica a exploração do trabalho pela minimização do tempo de produção, apropriando-se ao mesmo tempo da mais-valia relativa e de uma parcela maior da massa global de valor no mercado; e de outro, a conservação dos setores produtivos mais atrasados, exigindo maiores jornadas de trabalho, expropriando quantidades imensas de mais-valia absoluta, mantendo operante e contínua a quantidade de valor a ser transferido no mercado. São nesses setores terceirizados que, em geral, se encontram os antigos profissionais, cujo valioso conhecimento prático dispensa os equipamentos mais sofisticados que são propriedade dos conglomerados centrais. Toda reestruturação tecnoprodutiva do capital consubstancia uma somatória de contradições. Reestruturação cujo fim é a perpétua funcionalidade do capital tendendo infindavelmente a regular o irregulável, a queda tendencial da taxa de lucro e as tendências à crise. (Pp. 84-85, rodapé)
Diante de nossa temática, João Bernardo faz uma síntese pertinente: “quanto maior for a componente intelectual da atividade dos trabalhadores e quanto mais se desenvolver intelectualmente a força de trabalho tanto mais consideráveis serão as possibilidades dos lucros capitalistas.”
Todavia, como essa maior intelectualização não pode fugir do controle e a manutenção dos lucros é a alma do capitalismo, é imperioso o ‘controle permanente’ tanto da formação intelectual da força de trabalho como da ‘atividade intelectual dos trabalhadores’. Somente com tal controle é possível estimular essa componente do trabalhador e ao mesmo tempo evitar que um excesso de inventividade sugira rupturas não previstas nos planos de metas dos gestores. (P. 90)
… no computador clássico, os circuitos materiais são ordenados pelo construtor de modo a fornecer ao programador uma única base axiomática possível por máquina: a sua linguagem [...] [Também] a especialização da informática atual e a divisão de trabalho que ela implica mostram que as soluções só existem [...] sobre a base do que foi pré-determinado pelo construtor [...]. Como cada computador atual possui, cristalizada, apenas uma base axiomática que o torna eficaz somente nos limites pré-determinados, o seu programador só o pode utilizar eficazmente no seu domínio específico [...]. Segue-se daí a taylorização da informática. (BANC apud LOJKINE, 1995, p. 139)
Reconhecida a imposição axiomática, resta ao profissional uma liberdade e uma criatividade educadas diante de máquinas cuja finalidade nada mais é que a de executar o que nelas está programado. Há um conhecimento que está fora do alcance do operador e isso é resultado da práxis social classista-mercantil que impossibilita o operador direto aprofundar-se e reconhecer as técnicas de produção, cujo know-why é monopolizado pelos centros geradores da ciência contemporânea. (Pp. 92-93)
Os princípios toyotistas – auxiliados pelas chamadas tecnologias da informação – incentivam o dispêndio de energia intelectual dos trabalhadores, mas para ser apropriada em uma dimensão muito mais profunda do que o taylorismo e o fordismo fizeram. As tecnologias inteligentes e procedimentos organizacionais da produção informatizada não possibilitam a criação efetiva de um trabalhador mais inteligente. Ele se transforma em um trabalhador com habilidades e competências adequadas para lidar com equipamentos e máquinas programáveis e é um meio intermediário no processo de trabalho. Como criador de valor, sua atividade é reduzida a uma simples abstração de atividade, enquanto a máquina é ela mesma ‘a virtuose, é ela que possui habilidade e força em lugar do operário’ (Marx - Grundrisse).
A máquina programável contemporânea, informatizada, não alterou a redução do trabalho a uma ‘abstração de atividade’, isto é, uma atividade apenas intermediária do processo de trabalho dominado pela máquina, pelo capital fixo e pelas relações sociais a ele inerentes. Uma atividade que não orienta a execução; inversamente, é a máquina que orienta o trabalho humano que foi todo pensado fora do trabalhador, foi pensado e planejado por meios estranhos a ele.
O tipo de intelectualização exigida não adviria do próprio trabalhador, nem levaria em conta sua formação humana cultural, mas seria a imposição de uma formação adequada a um processo tecnológico classista-mercantil. Essa intelectualização atua através da máquina e como poder da própria máquina que impõe não só seu ritmo, mas seus algoritmos e lógica embutida, condicionando a atividade humana. O ato e o agir mental do trabalhador sobre o equipamento não implica no conhecimento da natureza desse instrumento – nem técnica nem socialmente, porque [...] ‘o trabalho e o conhecimento são separados, não estão mais juntos; e então, o trabalho se tornou uma mera ação mecânica e a ciência se colocou fora da subjetividade de quem trabalha; foi pensada em outro local e, no processo de trabalho, encontra-se não em quem trabalha, mas dentro de uma coisa, pois é isso que é a máquina; essa será a característica central do processo de produção enquanto ele for determinado pelo capital.’ (NAPOLEONI). (p. 95)
Mesmo que facilite o trabalho, como capital fixo, a máquina ‘não livra o trabalhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo’ (Marx - O Capital). Na lógica do capital, ‘quanto mais pleno de inteligência o trabalho, tanto mais o trabalhador diminui em inteligência’ (idem), pois a máquina, não só condiciona o trabalhador, mas impede de consolidar seu saber-fazer para si próprio. Sob a máquina como capital, ao trabalhador é sonegada a apropriação por ele próprio de seu saber-fazer. (p. 96)
O comércio de ideias operárias que ora se apresenta como um incentivo ao ‘fator’ humano é forma de cooptação da consciência do trabalhador e reveste-se de um fluir inercial e obediente aos ditames impostos unilateralmente pela forma material impressa pelo processo tecnológico. Processo que acaba impondo novos patamares técnicos do fazer, contraditoriamente, a partir do saber-fazer dos próprios trabalhadores, mas que ao mesmo tempo os vai dispensando. Entretanto, como o capital não pode viver sem o trabalho vivo que alimenta o trabalho morto, necessita continuamente do saber-fazer dos trabalhadores, exigindo-lhe uma criatividade circunscrita aos limites técnicos socialmente impostos. (p. 97)
O trabalhador está mais uma vez vivendo esse imbróglio quando pensa para o capital, dentro e fora do local de trabalho, quando é levado a decidir na esfera da moralidade individual o que fazer de sua força de trabalho [...] Vários autores ao mencionarem essa condição referem-se às qualificações dos operadores de modo ambíguo. Sutis pressupostos geram formulações vagas e antropomórficas como a de máquinas exercerem atividades cerebrais. Se assim for, máquinas e homens possuem o mesmo estatuto ontológico. É essa reflexão crítica que se quer introduzir nas elaborações sobre as novas tecnologias e sobre a ‘qualificação’ dos trabalhadores. As teorias, em geral, parecem escamotear a característica básica do homem ser produtor e reprodutor da vida material; extinguem a materialidade da produção e reprodução do mundo, cogitando que o homem é somente uma interface comunicacional, um repositório de informações, plasmado em códigos e linguagens decifráveis por programas pré-elaborados, cujo resultado tem sido a superfluidade humana para o capital. (p. 98)
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O Tempo – substância do capitalismo - João Bernardo, palestra realizada em 19 de outubro de 2005, na Fundação Santo André, e reproduzida nos Cadernos de Ciências Sociais 1.
Considero existirem duas classes capitalistas: a burguesia e os gestores [...] Foi o combate dos trabalhadores às novas modalidades de exploração surgidas a partir de suas lutas que exigiu a identificação dos gestores enquanto exploradores.
A afirmação de existência de uma classe social formada por gestores, contudo, não tem consequências apenas na análise do capitalismo de Estado: influencia a maneira como se considera o próprio fundamento do capitalismo. Os burgueses exercem a supremacia econômica e social graças à propriedade dos meios de produção, e é através da transmissão hereditária destes bens que eles asseguram aos filhos a condição de capitalistas. Todavia, a superioridade econômica e social dos gestores não provém de nenhuma propriedade, mas do controle que, através da administração, exercem sobre os processos de trabalho e sobre a vida social em geral. E os filhos dos gestores podem suceder os pais graças à aquisição de um estatuto social fornecido pela frequência dos melhores estabelecimentos de ensino e pela participação nas redes da elite. Em resumo, a exploração tanto se realiza através do exercício da propriedade como através do exercício do controle.
Isto significa que no capitalismo a exploração não consiste somente na apropriação final dos bens materiais e dos serviços produzidos pelos trabalhadores, mas também no controle do processo de produção [...] muito mais fundamentalmente do que uma apropriação de bens, a exploração capitalista é um controle exercido sobre o tempo [....] O Tempo, não os objetos, é a substância do capitalismo. Antes de ser material, a exploração deve entender-se na sua imaterialidade temporal [...] Tudo se resume a tempos e a defasamentos temporais. (p.p. 94-95-96-97)
A inclusão dos ócios no quadro do capitalismo reforça a importância do tempo enquanto substância do modo de produção [...] Até uma época bastante recente, mesmo nos países desenvolvidos, o consumo dos assalariados durante os períodos de lazer ocorria, geralmente, em formas pré-capitalistas, sobretudo em modalidades de economia doméstica. Nas últimas décadas, porém, com a substituição dos restaurantes familiares pelo fast food, a substituição das pequenas lojas pelos hipermercados e pelos shopping centers, a difusão das viagens organizadas e a proliferação de serviços destinados a acompanhar, enquadrar e dirigir todas as diversões imagináveis, os ócios passaram a oferecer ao capitalismo inesgotáveis oportunidades de mercado. Todavia, apesar do volume de negócios que representa, este aspecto está longe de ser o mais importante.
É impossível aumentar as qualificações da força de trabalho sem prolongar o tempo de formação dos trabalhadores – e as instituições de ensino são insuficientes para este fim, porque as inovações tecnológicas continuam a ocorrer depois de cada pessoa sair da escola. Os capitalistas encontraram-se perante uma situação paradoxal: como manter os trabalhadores atualizados e adestrados sem comprometer os horários de trabalho? O problema foi solucionado mediante a conversão dos ócios em processo de qualificação da força de trabalho.
Com o aparecimento dos microcomputadores, a eletrónica permitiu, pela primeira vez na história da humanidade, que um instrumento destinado ao trabalho servisse também de meio de divertimento. Todas as formas eletrónicas de lazer constituem, por si sós, uma forma de adestramento da força de trabalho, o que significa que as pessoas passam alegremente a maior parte dos seus ócios adquirindo habilitações que as tornam mais produtivas. Aliás, a questão é mais complicada ainda, porque os vídeos musicais e publicitários – se é que uns se distinguem dos outros – e os jogos eletrónicos habituaram todas as pessoas a modalidades de tempo interseccionado que antes eram apanágio das técnicas vanguardistas de escrita ou de pintura. É durante os lazeres que os indivíduos adquirem a capacidade de lidar com as organizações temporais complexas indispensáveis aos atuais processos de trabalho. (pp. 98-99)
Funcionalmente analfabetos mas ágeis em todas as facetas da vida urbana, dotados de uma percepção imediata da comunicação audiovisual, atentos aos caprichos mais efémeros – mesmo sem passarem por qualquer curso de qualificação profissional, estes jovens adquirem as habilitações básicas para lidar com as novas tecnologias.
O que é, então, mais importante: o conteúdo, enquanto conteúdo ideológico dos lazeres, ou a forma, enquanto quadro temporal em que os lazeres decorrem? As novas noções práticas do tempo, indispensáveis para fazer progredir a produtividade na era da tecnologia eletrónica, é nos lazeres, muito mais do que nas escolas ou nas empresas, que os trabalhadores as assimilam. Em vez de constituírem uma fuga à exploração, os lazeres tornaram-se uma parte indispensável dos mecanismos da mais-valia. (p.99)
Hoje, na era da transnacionalização, em que as fronteiras entre países e as legislações nacionais não opõem qualquer barreira eficaz à movimentação do capital e à atuação dos capitalistas, as grandes empresas tornaram-se incomparavelmente mais poderosas do que os órgãos clássicos do Estado. E a inclusão dos ócios nos mecanismos da exploração veio ampliar mais ainda a soberania das empresas, permitindo que elas presidam a todos os momentos da nossa vida.
Para que a disciplina de empresa continue a pautar os comportamentos fora da empresa é necessário que o ócio dos trabalhadores, bem como as 24 horas dos desempregados, não sejam tempo livre, mas tempo controlado. É necessário que os pensamentos não voem, mas sigam trilhas. Este resultado não se obtém apenas através da concentração das indústrias cinematográfica e televisiva num escasso número de mãos, com a consequente futilidade de conteúdo das diversões.
Hoje, não é apenas nos níveis econômico e ideológico que os capitalistas controlam os ócios, mas ainda no nível diretamente repressivo. Dentro das empresas, a eletrônica permitiu a fusão do processo de fiscalização com o de trabalho. Esta conjugação, inédita na história da humanidade, ampliou-se à sociedade em geral quando os bancos e as lojas começaram a sujeitar os clientes a formas de vigilância que até então haviam reservado para os assalariados. Depois, o fato de os computadores e outros instrumentos eletrônicos servirem tanto de meio de trabalho como de meio de divertimento permitiu a fiscalização automática dos ócios, Desde virtuais às palpáveis, não existe hoje nenhuma modalidade urbana de diversão que não seja fiscalizada. Entre o mais intenso dos gestos de trabalho e o mais espreguiçado dos gestos de repouso existe um continuum preenchido pela vigilância eletrônica. (pp. 100-101)



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